Escrevendo pelas beiradas, uma não-receita de escritora.
Dia desses me flagrei pensando
sobre quando foi, exatamente, o momento inédito da minha vida que eu teria me reconhecido como “escritora”. Pensei bem, repensei e nada me veio à mente. Até
que, já cansada, concluí: esse momento nunca existiu. Eu jamais tive tal
pretensão. Recordo-me das vezes em que me chamaram de poetisa e senti orgulho,
mas não me intitulei assim. Não me apresentei dessa forma para ninguém. Era
apenas “Prazer, eu sou a Carol.” A Carol, o conjunto. A Carol é todo um combo,
entendem? A Carol que se entrega à vida, de modo intenso, mergulha no roteiro
dos dias e tem mil e uma histórias para contar. Simples, não?
Disfarcem, aqui segue um segredo:
para mim, muita gente é escritora sem saber que é. O que acontece é que temos
certos tabus na cuca, que nos impedem
de nos imaginarmos assim. E tem mais, a pessoa não é apenas escritora, é pessoa
e pronto... é “kit completo” com defeitos e qualidades. Quando cursei
engenharia, a mesma coisa aconteceu. A ideia de me imaginar “a engenheira” já
me fazia tremer na base. Tinha uma sensação de que em algum momento perderia minha
identidade. Isso mesmo, me perderia de mim. Que fase, que paradoxo. Na sequência, a palavra “advogada” também me deixou pensativa.
Engraçado como nossa carreira pode servir de referência. Mas nos resume? Define?
Com certeza, não. Porque a gente é bem mais. A gente supera um Curriculum Vitae. Até hoje não sei se a gente já superou o latim também (risos). O x da questão é que a gente, muitas vezes, não se
encaixa a moldes pré-estabelecidos. A gente não é apenas a formação que tem,
mas é também. A gente não é apenas as histórias que leu. A gente transcende. A gente
é as histórias que viveu ou que não viveu, mas sonhou. A gente é simples. Mas
de tão simples, a gente passa a ser totalmente complexo. Porque cada ser humano
é um Universo, uma caixinha de surpresas. Ou melhor: de Pandora – leiam sobre o MITO, é fantástico.
Seria, então, muita prepotência
dizer que essa inquietação crônica veio de fábrica? Fui uma criança que cresceu
sem internet. Internet, na minha infância, era mera ferramenta para fazer pesquisa
escolar e olhem lá. Eu não gostava de digitar meus trabalhos do colégio. Podia,
mas não. Curtia escrever à mão. Fui uma estudante toda raiz, nada nutella,
imersa em meio às minhas dobraduras, recortes de revistas e altar particular de
músicas, que significavam muito para mim por suas letras. Eu tinha minha
criatividade como amuleto, sempre fugi de padrões convencionais de estudo.
Inventar era menos penoso, mais divertido. E, assim, fui seguindo meu próprio
ritmo e relógio, que sempre divergiram da maioria. Fui escrevendo pelas
beiradas, sem me dar conta. Fui atraindo gente que sofria do mesmo “mal” – que,
na verdade, é bem. E fui achando toda essa inquietação absolutamente normal.
Aquela estranheza inicial que
queria detectar de quando palavras vieram a minha cabeça, pela primeira vez, clamando
para serem despejadas no papel. Essa estranheza jamais tive e palavras sempre
vieram. Palavras são de casa. E muitos sucedidos me aconteceram, até que ano
passado (2018), quando dei por mim, já estava envolvida em um projeto de
antologia poética com outras tantas mulheres – diferentes e iguais a mim. Irmãs
de alma. Caí na real, apenas hoje, escrevendo. Demorei. Grande parte delas nem
mora na mesma cidade, mas a rede de apoio mútuo que construímos não é brinquedo.
Devido a esse episódio “do livro da Jo”, que virou NOSSO, a conheci.
Ela que acredita no amor, no
sonho e tem fé. Ela que poema a vida de dentro para fora em metáforas. Ela que
lê e já trabalhou em livraria. Ela que sabe bem onde pisa planta flores e tem noção da modernidade
líquida em que estamos inseridos. Ela que foi a primeira a me mandar uma
mensagem de alento quando perdi o chão por escorregadelas próprias dos caminhos
- típicos dos sensíveis e fortes de espírito. Ela que me deu a ideia de criar esse novo blog.
Apaixonada por livros, pássaros,
flores e canções de amor. Acredita que sua missão é espalhar o encanto pelo
mundo. Gosto de chamá-la, carinhosamente, pela abreviação de seu nome: Aldi!
Todavia, dons a gente não abrevia. Logo, não economizo caracteres para contar
que essa minha amiga, como seu próprio nome literário já diz, é um Máximo
também!
Aldirene Máximo é antologista, biblioterapeuta, blogueira, cronista,
escritora, narradora de histórias, palestrante, poeta, professora, psicopedagoga
e revisora de textos. Nascida em São Paulo, mas transcendendo territórios com
sua escrita tocante. Quando criança, dormia ouvindo histórias, contadas por seu
pai. Aos 12 anos, participou de um concurso literário na escola, quando foi
contemplada com o primeiro lugar. Desde então, descobriu sua paixão por poesia
e não parou mais de escrever. Tem formação em Letras e é especialista em
Psicopedagogia. Como toda boa escritora, ultrapassa seu currículo. Aldirene vai
muito além, faz contatos, corre atrás de divulgações para projetos culturais.
Vira e mexe, já é possível reconhece-la incentivando leitores e inspirando
outras pessoas que sonham escrever.
A história da Aldi se confunde com a minha e de outras tantas pessoas pelo mundo. A realidade é que não existe receita ou fórmula mágica para se escrever. O que existe é o coração pulsando no peito com vontade. O que existe é chamado. E o mais bonito de ver é a forma como essa moça respondeu ao lindo
chamado da Arte: por amor e com amor. A maioria de seus textos são escritos de madrugada, é quando a
inspiração bate à porta, caminha até a sala e puxa uma cadeira. Ela revela que não
possui nenhuma meta específica, apenas deixa os pensamentos inspirados fluírem.
Uma vez, quando iniciou um projeto, começou a escrevê-lo às 19:00 horas e só
conseguiu parar às 03:00 horas. Conta que foi algo intenso. Quando se deu conta,
já havia escrito 60 páginas. Não acreditou. Além de tudo, Aldirene considera
seu processo de escrita um presente de Deus. É realista, ao compartilhar que bloqueios
criativos existem, mas que isso faz parte da vida de escritora: há momentos em
que escreve mais, em outros menos. Quanto às expectativas, ela não as cultiva,
pois escreve com o coração. Quer ser lida, mas aprendeu que toda poesia,
primeiramente, precisa ser bem degustada e digerida. O tempo do leitor também
precisa ser respeitado. Cada um de nós processa as percepções de forma única,
de tal modo que nem escritores, nem leitores sejam atropelados, mas possam
saborear a alegria desse encontro que implica um livro.
Máximo também é do tempo em que
se escrevia à mão, mas abre concessões ao bloco de notas do celular sempre que
se sente inspirada sobre o Amor, sobre Deus e sobre a natureza. Muitos dos seus
textos, a propósito, foram escritos a partir de conversas com amigas. Outros,
durante a adolescência e alguns durante a graduação no curso de Letras. Em seu
livro “Metáforas”, ela aborda sentimentos
e situações que a gente não observa, pelo fato de, na maior parte do tempo,
estar inerte com a correria da vida. Aldi, de maneira poética, consegue brincar
com as palavras. Coloca, com sutileza e lirismo, certas verdades em cheque, nos
fazendo refletir. São metáforas, nas quais a gente pode navegar, se reencontrar
com nossa essência e melhorar o olhar que temos em relação ao mundo que nos
cerca.
"Busque nos sonhos profundos
A riqueza bela
Plantada nas margaridas amarelas
Do início e do fim do mundo"(Aldirene Máximo)
Essa minha amiga, raríssimo exemplar de ser humano, consegue enxergar a vida
com os olhos da alma. Considera a
poesia um verdadeiro e bem (pr)escrito remédio. Um brinde ao autoconhecimento e
a capacidade que todos temos de, por meio das palavras, aprender a lidar com as
próprias emoções.
Dedico a ela, dama das letras, um
trecho poético da canção Gerânio, composição de Marisa Monte:
Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamenteAprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vistaDespreocupa-se e pensa no essencial
[ carol gaertner ]
Tão emocionante ser a inspiração de alguém. Eu que sempre escrevi para as pessoas, hoje recebo esse presente. Uma resenha para mim e sobre mim.
ResponderExcluirE o coração fica como? ❤
Obrigada, Carol!
Aguenta coraçãozinho! Feliz demais aqui, Aldi. Que presente divino essa amizade das LETRAS para a VIDA! 💖👏👏👏✍ tim-tim ...te brindo! História linda e merecedora de registros. Forte abraço!
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ResponderExcluirQue lindeza! Obrigada, Aldirene, por ter inspirado a Carol a nos inspirar e ensinar!
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