a miopia que mereço

eu não enxergo os fios puxados do cachecol, eu não enxergo os meus poros abertos, eu não enxergo as linhas de vida vivida que já começam antes dos trinta ou as sobrancelhas por tirar 

eu não enxergo meus cabelos arrepiados do frizz, nem os seus fios brancos que te fazem maduro, eu não enxergo a falha que você insiste que tem na barba 

eu não enxergo a reminiscente adolescência que, embora rara, ainda marca uma espinha no meu rosto, eu não enxergo a rusga no meio da testa de ninguém

sou cega à brabeza, um sorriso eu enxergo bem, mas muitos defeitos que todo mundo de vista boa vê... eu não (vejo) e me perguntam se eu estou de lentes (repito: eu não)

quando quero ou preciso coloco os óculos, mas quando quero ser só feliz eu os tiro

observem que cada um tem a miopia que merece, muitas coisas prefiro enxergar do meu jeito ...

e quando não enxergo mesmo, eu fecho os olhos para ver! 

[Carol Gaertner]